Artigo
CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SACRAMENTOS

Considerações sobre os Sacramentos

Introdução

O homem foi criado por Deus e colocado no mais magnífico local da Terra, que era o Paraíso terrestre. Sendo o Paraíso local de uma felicidade superior à natureza humana, Deus conferiu a Adão e Eva, além dos dons naturais, dons sobrenaturais (a graça, que capacitava o homem a ir para o Céu) e dons preternaturais, como:

a) a integridade (funcionamento perfeito da inteligência, vontade, bem como dos órgãos da sensibilidade),

b) a imortalidade (não morreriam),

c) ciência infusa (não precisava se esforçar para conhecer as coisas, tanto pelo lado científico quanto simbólico)

d) domínio sobre os animais e sobre a natureza.

Ali deveriam viver todos os homens, já nascendo com aqueles dons e destinados a, após uma existência cheia de santidade e felicidade, serem levados para o Céu sem passarem pela morte.

Tal plano de Deus envolvia:

a) Que cada pessoa progredisse na virtude e desenvolvesse admiravelmente suas próprias perfeições;

b) O serviço de Deus e progresso na virtude os homens deveriam fazê lo juntos, colaborando uns com os outros e influenciando uns sobre os outros;

c) Formariam assim uma sociedade e um Estado perfeito, com uma civilização e cultura admiráveis, que poderiam ser poderosíssimos auxiliares na santificação.

A humanidade era chamada pois a embelezar prodigiosamente o Paraíso terrestre, e edificar ali uma cultura e uma civilização de perfeição absolutamente maravilhosa.

Entretanto, o pecado original decorrente da tentação do demônio e da queda de Adão degradou o homem, que perdeu os dons sobrenaturais (a graça) e preternaturais, teve a desordem dentro de si e ficou sujeito à morte, às doenças, lançado em meio a uma natureza hostil.

O pecado original fez ruir portanto aquele plano maravilhoso.

Mas o plano de Deus, quanto ao fim do homem, continua substancialmente o mesmo, envolvendo:
a) Que os homens devem santificar se; e não apenas isoladamente, mas formando uma sociedade;
b) Que eles devem pois constituir um Estado, uma cultura, uma civilização, como meios para sua santificação e para a glória de Deus;
c) Aqueles que morrerem em estado de pecado mortal serão condenados e irão para o inferno, e juntos dos anjos rebeldes sofrerão eternamente. Aqueles que se santificarem, salvar se ão e irão para o Céu, para a glória celeste. O término dessa maravilhosa obra divina marcará o término da História na Terra.

A obra da Redenção

Mas, tendo havido o pecado original, essa maravilhosa obra divina não se realizaria se não houvesse uma redenção do gênero humano.

Foi para isso que o Filho de Deus, na sua infinita bondade, fez se homem para nos salvar, isto é, para nos remir do pecado original e dos pecados atuais, e nos reconquistar o direito à bem aventurança no Céu.

Nosso Senhor Jesus Cristo, para nos salvar, satisfez por nossos pecados, sofrendo e sacrificando se sobre a cruz. E, além disso, ensinou nos tudo o que devemos crer e praticar para agradar a Deus, dando nos as suas leis, as suas doutrinas e os meios de obtermos ajuda (a graça santificante) para cumpri las e assim irmos para o Paraíso celeste.

O que é a graça e sua necessidade

A graça é “um dom sobrenatural de Deus“, por causa dos méritos de Jesus Cristo, como meio de salvação, é tudo na religião católica, é sua seiva, o seu sopro, a sua alavanca.

Todos os homens devem viver da graça ou se perderão eternamente. Ou escolhem a vida de Cristo que é a graça, ou a vida da carne que é o vício; a salvação ou a perdição.

Santo Agostinho define a graça da seguinte forma: “A graça é como o prazer que nos atrai… Não há nada de duro na santa violência com que Deus nos atrai… tudo é suave e benfazejo” (Sermo 133, cap. XI). A graça tem um verdadeiro poder atrativo, que provém à vontade, a estimula e leva a Deus, a atrai por deleitação interior, e faz amar, como por instinto, Aquele que a nossa razão devia amar acima de tudo: Deus.

Palavras de Nosso Senhor: “Ninguém pode vir a mim, se Aquele que me enviou não o atrair” (Jo 8, 22). E esta outra: “Uma vez levantado da terra, atrairei tudo a mim omnia traham ad meipsum” (Jo 12, 32).

A necessidade dos Sacramentos

A graça, em seu princípio, é a vida de Deus em nós: “Participatio quaedam naturae divinae“, diz Santo Tomás.

Na alma humana pode haver duas vidas: a vida do pecado e a vida da graça. Na vida da graça há uma “seiva” (que é o dom de Deus, proveniente dos méritos de Jesus Cristo) que deve circular em nós: “Nós somos os ramos, Cristo é o tronco” (Jo 15, 4 5). Deve haver, portanto, uma união íntima e completa entre os meios de transmissão da graça e a alma que recebe esta graça, como há união completa entre o tronco e os ramos de uma árvore.

Estes meios de transmissão da graça são os sacramentos. Os sacramentos tornam se, neste sentido, os canais transmissores da graça divina às almas. Canais estabelecidos por Jesus Cristo, e portanto necessários.

Necessidade, significado e instituição dos Sacramentos

A natureza humana ficou corrompida devido ao pecado original, e só podemos observar fielmente os mandamentos com o auxílio da graça de Deus. Sem a graça de Deus nenhuma pessoa é capaz de praticar o bem ou nele permanecer duravelmente. Assim, sem auxílio da graça ninguém se salva.

Agora, a graça (dom sobrenatural) nós só obtemos por meio dos Sacramentos e da Oração.

Os Sacramentos são sinais sensíveis instituídos permanentemente por Nosso Senhor Jesus Cristo para significar e conferir a graça. Portanto, em todo sacramento se requer necessariamente três coisas:
a) sinal sensível;
b) instituição divina permanente e
c) força de produzir a graça.

Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu, nem mais nem menos, sete (7) sacramentos: batismo, confirmação, eucaristia, penitência (confissão), extrema unção, ordem e matrimônio.

Estes sacramentos não são iguais em dignidade. O mais excelente é a eucaristia, porque não só confere a graça, mas contém o próprio autor da graça. E o mais necessário é o batismo.

Os sacramentos não são meras representações

Os sacramentos comunicam a graça, “por virtude própria“, independente das disposições daquele que os administra ou recebe. Esta qualidade, chamada “ex opere operato“, distingue os sacramentos da “oração“, das “boas obras” e dos “sacramentais“, que têm a sua eficácia “ex opere operantis” nas disposições do sujeito.

Os cinco primeiros (batismo, confirmação, confição, eucaristia e extrama unção) são estabelecidos para o aperfeiçoamento pessoal dos fiéis; os dois últimos (ordem e matrimônio) para o governo e a multiplicação da Igreja.

Na ordem natural, para o aperfeiçoamento pessoal, é preciso:
1o. nascer;
2o. fortificar se;
3o. alimentar se;
4o. curar se na enfermidade;
5o. refazer se nos achaques da velhice.

Para o aperfeiçoamento moral a humanidade carece de:
1o. Autoridade para governar,
2o. Propagação para perpetuar se.

Temos os mesmos elementos na ordem espiritual:

1o. O batismo é o nascimento da graça

2o. A crisma é o desenvolvimento da graça

3o. A eucaristia é o alimento da alma

4o. A penitência (confissão) é a cura das fraquezas da alma

5o. A extrema unção é o restabelecimento das forças espirituais

6o. A ordem gera a autoridade sacerdotal

7o. O matrimônio assegura a propagação dos católicos e das suas doutrinas.

Os sete sacramentos são, deste modo, como outros tantos socorros, dispostos ao longo do caminho da vida, para a infância, a juventude, a idade madura e a velhice; para as duas principais “carreiras” que se oferecem: sacerdócio e casamento.

A analogia é admirável e estabelece que deve haver sete sacramentos. Se houvesse menos, faltaria qualquer coisa; se houvesse mais, haveria um supérfluo; os sete sacramentos preenchem todas as nossas necessidades espirituais.

OREMOS

Infundi em nós, Senhor, o espírito de pensar e obrar bem, para que nós, que não podermos existir sem vós, possamos viver segundo a vossa vontade. Assim vo lo pedimos pelo vosso Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor. Assim seja.

(Oração do VIII Domingo depois de Pentecostes).



Fonte de referências: Os Sacramentos D. José A. Mattoso, Bispo da Guarda União Gráfica Lisboa 3ª Edição 1949

Autor: D. José A. Mattoso, Bispo da Guarda